Trilha do Saber: Pela estrada e pelo rio, o caminho da urna até o eleitor
Para chegar à reserva extrativista Guariba- Roosevelt, na Amazônia mato-grossense, a equipe do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso (TRE-MT) precisou encarar 21 horas de ônibus até Aripuanã, distante 1200km de Cuiabá. A aventura incluiu ainda seis horas de estrada de chão até às margens do Rio Guariba e mais duas horas de canoa rio acima. Todo este percurso foi realizado pelos servidores da Justiça Eleitoral para garantir que os 53 eleitores da comunidade rural e entorno tivessem o direito ao voto nos dois turnos das Eleições Gerais de 2014.
Esta foi a primeira eleição que a pequena comunidade de 70 moradores recebeu uma sessão eleitoral. Por lá não há sinal de telefone ou internet e a energia vem de um gerador que fica ligado durante o dia apenas quando necessário. A comunidade rural recebeu com festa a notícia da instalação da urna eletrônica na escola rural Trilha do Saber.
Da floresta, os ribeirinhos tiram o sustento de suas famílias tendo como principal atividade a extração da castanha do Brasil, do látex e do óleo de copaíba. A vida em harmonia com a natureza nem sempre é fácil. Na Amazônia, os rios são estradas que ligam as comunidades e é por estes caminhos que os eleitores precisavam percorrer para conseguir votar. A chegada da Justiça Eleitoral na comunidade levanta a autoestima dos ribeirinhos, ao facilitar o direito ao voto, segundo Emerson de Oliveira, que mora há três anos na comunidade e trabalha em um projeto que ajuda os ribeirinhos na extração da castanha do Brasil.
Para os moradores, poder votar na própria comunidade é ser reconhecido como cidadão. “Em outubro as águas são muito baixas e as estradas são ruins. Muitas famílias não tinham com quem deixar os filhos para ir ao local de votação e, quando levavam, muitas vezes não tinham dinheiro para o ônibus e a alimentação. A chegada da seção eleitoral aqui veio levantar a auto-estima da comunidade. Afinal, agora eles podem exercer o direito ao voto, podem se sentir cidadãos”, comemorou Emerson, que é casado com uma moradora da reserva extrativista.
A seção eleitoral na Escola Rural Trilha do Saber também beneficia os moradores de comunidades ribeirinhas próximas, que agora percorrem apenas um pequeno trecho de canoa para votar. Muitos dos jovens de 16 e 17 anos da comunidade puderam votar pela primeira vez em casa. “Eles estavam empolgados, foi discutido com eles na escola a importância do voto”, explicou Emerson de Oliveira.
Percurso
O técnico Fabian Martinelli operou o equipamento de transmissão via satélite que enviou os dados da urna eletrônica instalada na reserva extrativista para a Justiça Eleitoral. Fabian, que trabalha há oito anos com o equipamento Bgan, participou da transmissão de dados dos dois turnos das Eleições Gerais 2014. Para chegar a tempo do segundo turno, no dia 26 de outubro, o técnico, juntamente com a equipe, saiu de Cuiabá na terça-feira (20.10) e, após 21 horas de viagem, chegou em Aripuanã. Na quinta-feira (22.10), já na cidade, a equipe separou os alimentos que seriam distribuídos para os mesários no dia das eleições e verificou o número de série de urnas.
No sábado (25.10), véspera das eleições, a equipe percorreu 160 km de carro em uma estrada de chão, em um percurso que durou seis horas até às margens do rio Guariba. “A estrada é bem difícil, pontes precárias e muito buraco e tivemos que passar na mata fechada para chegar ao Rio”, explicou.
A equipe do TRE-MTseguiu duas horas rio acima em uma canoa levando a urna eletrônica protegida por uma caixa plástica que impede que o equipamento afunde ou molhe caso caia na água. A equipe foi conduzida por um barqueiro, um ribeirinho que conduziu a canoa pelas águas rasas do rio Guariba. Lá chegando, começaram os trabalhos para organizar a sessão eleitoral para o domingo, dia da eleição. “Tudo ocorreu de forma tranquila e assim que encerrou o período de votação, às 17h, enviamos os dados via satélite para a Justiça Eleitoral”, ressaltou Fábio Martinelli.
A comunidade extrativista foi o local de acesso mais difícil que o técnico de satélite, Fabian Martinelli, foi nestes oito anos de experiência. “É maravilhosa a possibilidade de conhecer as pessoas que vivem em uma realidade completamente diferente. Todo este empenho é para possibilitar o direito ao voto até mesmo para as pessoas que moram onde o acesso é mais difícil”.
Difícil acesso
Com uma extensão territorial de 906 mil quilômetros quadrados, Mato Grosso possui 1.499 locais de votação, dos quais pelo menos 400 estão localizados em áreas rurais, sendo 90 considerados de difícil acesso e outras 32 em aldeias indígenas. As equipes do TRE-MT não mediram esforços para fazer com que as 8.790 urnas eletrônicas que foram utilizadas nestas eleições chegassem a todos os locais de votação, inclusive aos mais distantes do Estado. Nesses locais, os resultados são enviados via satélite.
Sem o equipamento de transmissão via satélite, os Bgans, os técnicos do TRE levariam horas até levar a urna eletrônica para o local mais próximo com conexão segura de internet para realizarem a transmissão dos dados. “Em Mato Grosso muitas urnas só chegam de barco ou avião aos locais isolados e demoram dois dias para retornar após a apuração. Os técnicos de satélite têm uma grande responsabilidade pelo sucesso das eleições, por isso é importante que tenham comprometimento e segurança”, explicou o secretário de Tecnologia de Informação do TRE-MT, Ailton Lopes.
Para o presidente do TRE-MT, desembargador Juvenal Pereira da Silva, as eleições em Mato Grosso são uma operação de guerra, pela extensão territorial e locais de difícil acesso. “A Justiça Eleitoral não mede esforços para fazer com que as urnas eletrônicas cheguem onde está o cidadão e também se empenha para transmitir o resultado de forma rápida e segura. Garantindo assim o direito ao voto para todos os cidadãos de Mato Grosso”, afirmou.