O atual cenário político, econômico e social do Brasil precisa mudar e o poder de promover as mudanças necessárias está nas mãos do cidadão eleitor. Com o objetivo de despertar essa consciência na sociedade que o Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso resolveu promover audiências públicas da cidadania em municípios de Mato Grosso, a exemplo da que foi realizada nesta sexta-feira (14/07), em Tangará da Serra.
A sociedade de Tangará abraçou a iniciativa e mais de 200 pessoas, entre advogados, estudantes do ensino médio, universitários, líderes comunitários, presidentes de bairros, autoridades políticas e religiosas, representantes dos setores público e privado, além dos demais cidadãos, participaram da audiência, que aconteceu a partir das 10h, no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil.
Por mais de duas horas, foram levantados e respondidos os seguintes questionamentos, relacionados ao combate à corrupção: o que eu posso fazer para mudar o meu país?; como fiscalizar a correta aplicação do dinheiro público e como e onde posso denunciar sua aplicação irregular/ilícita?; o voto consciente é uma importante ferramenta de combate à corrupção; o que é controle social e seus benefícios para a correta destinação do dinheiro dos impostos; preservação do patrimônio público; e sistemas eleitorais. Também foram debatidos temas como a ética, direitos e deveres do cidadão e democracia.
"Esperamos que daqui se colham bons frutos, para que tenhamos um país melhor com menos problemas e escândalos. Nós, seres humanos, gostamos de música, esporte, carnaval e futebol. Isso é importante, mas há algo muito mais importante que afeta nossa vida e que vai refletir nesses campos que é a política. A política interfere na nossa vida. A educação, saúde, segurança e bem-estar passam pela política, por isso precisamos discutir esse tema. O grande protagonista que pode barrar toda essa maracutaia é o cidadão eleitor, que precisa de conhecimento e atitude. Exerçam o direito de corrigir o curso da história do Brasil. Não podemos ser conhecidos como um país de futebol e carnaval. Somos muito mais que isso e precisamos despertar para exercer a verdadeira cidadania, viver em sociedade em harmonia e de forma decente", ressaltou o presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso, desembargador Márcio Vidal.
Para a juíza da 19ª Zona Eleitoral, Leilamar Aparecida Rodrigues, o debate é de extrema importância e de grande avanço, pois é voltado para a conscientização de que combater a corrupção é algo que deve começar por nós mesmos. "A corrupção é um problema que aflige a todos nós e precisamos buscar mudanças comportamentais em toda a sociedade. Este é o caminho para a mudança necessária. Não podemos virar as costas para esse problema, mas sim, combatê-lo. A Justiça Eleitoral está fiscalizando e punindo os abusos políticos e econômicos, mas precisamos da parceria da sociedade, que deve denunciar".
O promotor eleitoral em substituição, Milton Matos da Silveira Neto, citou o texto de Rui Barbosa: De tanto ver triunfar as nulidades; de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça. De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar-se da virtude, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto. "Esse texto foi escrito há décadas, mas se aplica à atualidade. A maioria da população não tem sequer instrução básica, sendo a grande maioria, honesto, mas que serve apenas de massa de manobra, pois não sabe de seus direitos e de como cobrar as promessas de seus representantes. A única forma de mudar é pela educação, implantação de políticas públicas e punição severa para os corruptos".
O presidente da OAB – 10º subseção de Tangará da Serra, Cleiton Carvalho, ressaltou que a população não pode perder a esperança. "Queremos à frente dos Poderes Executivo, Judiciário e Legislativo pessoas que lutarão por dias melhores. Ficamos felizes em participar deste evento, no qual se discute a democracia e a cidadania".
O estudante do primeiro semestre de biologia, Jefferson Marcelo Arantes da Silva, falou que o "jeitinho brasileiro" empreendido por muitos para conseguir as coisas de maneira mais fácil e com menor custo, traz prejuízo para toda sociedade. "Essas atitudes prejudicam todos nós. A consciência política da sociedade precisa ser alterada e isso acontecerá trazendo o aluno cada vez mais para dentro da instituição de ensino, onde se prioriza o pensamento e a reflexão".
Juli Victoria Rocha Lima, que cursa faculdade de engenharia civil, destacou que quem aceita vantagem de políticos em troca de voto não pode esperar que o eleito trabalhe em seu benefício. "Vim de um município onde 82% era área indígena e lá um deputado conhecido por todo mundo procurava os eleitores em anos de eleição. Ele prometia vantagens, mas nunca cumpriu. Se você vota num político corrupto por interesse próprio, precisa entender que o eleito – quando estiver no Poder-, não fará nada para você. Quem aceita vantagem pensa que está lucrando, quando na verdade, não está".
A servidora Cristiane Varanda Daleffe citou todos os cidadãos que foram convidados para a audiência, mas não compareceram. "Esse evento foi amplamente divulgado e toda a sociedade foi convidada, mas muitos não se fizeram presente. Tenho certeza que essas pessoas querem um país melhor para viver. Essa atitude reflete uma incoerência, o cidadão quer um futuro melhor, mas não vem participar e nem fazer a diferença. Cada um de nós pode fazer a diferença. Espero que todos que participaram desta audiência promovam a reflexão em suas casas, universidades e trabalho".
Programação
Foi exibido um vídeo onde o coral da Justiça Eleitoral cantou a música "Não é tarde" – de Fernanda Brum e Anderson Freire. O grupo musical é composto pelos servidores Marfisa V C de Almeida Magalhães, Cristiane Manzano Manoel, Gilson Henrique Verlangieri Carmo, Luciano Bortoluzo, Ligia Campos e Gabriela Figueiredo Machado Simão.
Após, os cidadãos assistiram a um vídeo produzido pela Organização das Nações Unidas, denominado a Fábula da Corrupção, o qual no formato de desenho animado mostra os danos que a corrupção causa à sociedade, inclusive para os próprios corruptos. Na animação há personagens corruptos e honestos. "Na nossa sociedade há todos estes personagens. Muitos são como o "burro", ou seja, sabem dos atos ilícitos, mas não denunciam. A corrupção impede o crescimento e outros são como os ratinhos – que se deixam conduzir. É preciso denunciar. Não haverá mudanças enquanto houver pessoas se comportando como esses personagens", garantiu o diretor geral do TRE-MT, Nilson Fernandes Bezerra.
Autoridades presentes:
Também estiveram presentes na audiência as seguintes autoridades: o prefeito do município de Nova Olímpia, Fábio Martins Junqueira; o juiz auxiliar da Corregedoria do Tribunal de Justiça de Mato Grosso, Antônio Peleja; e os juízes de direito, Angelo Judai Junior e Lídio Modesto.
Jornalista: Andréa Martins Oliveira